segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

'O DEVER DO POVO', DE AUTORIA DE RUI BARBOSA AO POVO BRASILEIRO, DISCURSO NO TEATRO LÍRICO DO RIO DE JANEIRO, EM 3 DE OUTUBRO DE 1909, CONTRA 'OS DEFENSORES DO MILITARISMO'! (ALGUMA COICIDÊNCIA COM BOLSO-NARO?)




'O DEVER DO POVO':

A eloquência destas vozes, tantas e tão elevadas, que baixam das alturas do espírito; este rumor, que sobe das entranhas da terra; essa multidão, cuja massa evoca e condensa o concurso de milhões de almas ausentes; este espetáculo que já se parece representar no cenário do futuro; todas estas impressões de um passado que se despede, todos estes sinais de um mundo novo, que assoma no horizonte banhado em indecisa claridade; tudo nos está mostrando que a consciência brasileira desperta, que a consciência brasileira está viva, que a consciência brasileira se regue, que a consciência brasileira não se acha mais disposta a sofrer os coices das brutalidades, imbecilidades e ferocidades que convertem as repúblicas bastardas em esponjadouros de instintos abjetos, costumes descarados e paixões vergonhosas.

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POVO BRASILEIRO! RECLAMAI, E VOS ESCUTARÃO; EXIGI, E TEREIS; ORDENAI E SEREIS OBEDECIDO; SABEI QUERER E TUDO VOS CEDERÁ.

UMA NAÇÃO não se deve recear senão da sua própria inconsciência, da sua própria relação, da sua própria cobardia. Não corrais, como as crianças, de carochas, de cucas, de almas do outro mundo. SOIS O POVO, SOIS A NAÇÃO. SOIS O BRASIL. Ante a vossa vontade, ante a vossa autoridade, ante a vossa majestade, mandões, facções, minhocões não valem nada. SOPRAI E VEREIS COMO REBENTAM AS BOLHAS DE SABÃO.

Adotastes, nas vossas instituições escritas, um governo de legalidade, um governo de justiça, um governo de liberdade, um governo de soberania popular. E tudo vos tiraram. Despiram-vos da soberania, roubaram-vos a liberdade, subtraíram-vos a justiça, puseram-vos fora a liberdade, subtraíram-vos a justiça, puseram-vos fora da lei. É todo o vosso patrimônio moral que se foi. Fazei questão da sua posse. Empreendei a sua reconquista. Ponde a vida e a morte na sua consolidação definitiva. Se em quatro anos o perdestes, não há razão para que em quatro anos o não tenhais reavido, ao menos nos elementos capitais da sua recomposição.

MOCIDADE BRASILEIRA! ESPERAI, MAS NÃO ARREFEÇAIS, NÃO VOS ENTREGUEIS, NÃO PERCAIS DE VISTA A META RUTILANTE DA VOSSA ESTRELA.

POVO BRASILEIRO! Sede paciente, sede cordato, sede refletido. Mas não sejais descuidado, não sejais indiferente, não deixeis de ser firme, resoluto, intrépido na obra da vossa regeneração, na reivindicação dos vossos foros, na guerra aos corrompidos, aos parasitas, ao tráfico de brancos, ao regime da senzala, do feitor e do vergalho. Sabei alcançar para vós o que soubestes conseguir para os africanos: a redenção, a reaquisição de vós mesmos, o vosso lugar limpo na comunhão da humanidade livre.

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A DEMOCRACIA, O GOVERNO DO POVO PELO POVO, não é outra coisa: O IMPÉRIO DA OPINIÃO, CERCADA E SERVIDA PELOS ÓRGÃOS DA SUA SOBERANIA. E, ONDE A OPINIÃO PÚBLICA ENTRAR, ESPANCARAM-SE AS TREVAS, RAIOU A LUZ MERIDIANA, SUMIRAM-SE VAMPIROS E REPTIS, ENTROU A GRANDE HIGIENE, A COMPET~ENCIA, A VIRTUDE, A MORALIDADE ASSUMEM O PODER.

MARCHAMOS PARA AI, POIS, SENHORES. PARA AI, EM DIREITURA. PARA AI, A PASSO OUSADO. PARA AÍ, FIRMES, RESOLUTOS, CERTERIOS. PARA AI, ERGENDO O NOSSO GRITO DE PAZ OU DE LUTA.

COM DEUS, NA CONSTITUIÇÃO E PELA PÁTRIA.

TODA A MINHA ALMA ESTÁ NESTAS PALABRAS. OBRIGADO, MEUS CONCIDADÃOS, E AVANTE!

VIVA A NAÇÃO BRASILEIRA!"

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