quarta-feira, 15 de junho de 2011

A FESTA DO BICENTENÁRIO DA IMPRENSA BAIANA

A FESTA DO BICENTENÁRIO DA IMPRENSA BAIANA

Luis Guilherme Pontes Tavares*


A historiadora luso-brasileira Maria Beatriz Nizza da Silva veio de Lisboa na semana passada apenas para abrilhantar os festejos dos 200 anos da instalação da imprensa na Bahia. Atendendo o convite do presidente da Fundação Pedro Calmon, professor Ubiratan Castro, ela lançou, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, na manhã de sábado, 14 de Maio, dia maior das comemorações, o seu novo livro Diário Constitucional. Um periódico baiano defensor de D. Pedro – 1822, publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia – Edufba. É o terceiro livro de Maria Beatriz sobre a história da imprensa baiana que a editora publica nos últimos seis anos. Em 2005, a Edufba publicou a segunda edição, revista e ampliada, de A primeira gazeta da Bahia: Idade d'Ouro do Brazil; e, em 2009, Semanário Cívico, 1821-1823.
Há dois aspectos desta notícia para os quais chamo atenção: a contribuição de Maria Beatriz à bibliografia da história da imprensa da Bahia – a primeira edição do livro sobre o Idade d'Ouro do Brazil saiu em São Paulo em 1978. Ela dedica atenção ao tema e contribui para elucidá-lo há mais de 30 anos. O outro aspecto relevante é a opção por editar e imprimir os livros na Bahia, na Edufba conduzida com eficiência e criatividade pela professora doutora Flávia Goulart Garcia Rosa. Livros sobre a história da imprensa baiana impressos na Bahia como se isso fosse uma homenagem a Manoel Antonio da Silva Serva, o primeiro empresário da industria gráfico-editorial privada brasileira.
As comemorações dos 200 anos da imprensa baiana giram em torno de Silva Serva. Natural do norte de Portugal, ele chegou a Salvador por volta de 1796 e se instalou como comerciante, inclusive de livros e periódicos nacionais (Impressão Régia, RJ) e estrangeiros. Foi o representante da Real Fábrica de Cartas de Jogar e tesoureiro da Irmandade de Nosso Senhor do Bonfim. Em 1810 solicitou ao príncipe regente dom João autorização para fundar uma tipografia na Bahia. Não lhe faltou o apoio do governador geral dom Marcos de Noronha e Brito, 8º conde dos Arcos, de modo que em 13 de maio de 1811, após importar equipamentos da Europa, inaugurou a oficina no Morgado de Santa Bárbara, no Comércio. No mesmo dia imprimiu o prospecto que anunciava para o dia seguinte o lançamento do Idade d'Ouro do Brazil.
Silva Serva é o impressor da primeira revista brasileira, As Variedades ou Ensaios de Literatura, e do primeiro almanaque, Almanack da Cidade da Bahia, 1812. A oficina funcionou como uma espécie de escola de Artes Gráficas, a primeira da Bahia. Enfrentou as dificuldades de importação fabricando em Salvador prelos e tipos móveis e pretendeu – não há documentação que comprove o feito – construir uma fábrica de papéis, cujo insumo seria folha de bananeira. Acho fantástico que tenha viajado de navio para o Rio de Janeiro quatro vezes para vender serviços gráficos, livros e a assinatura do Idade d'Ouro do Brazil. Da última viagem, em 1819, não retornou. Os familiares – viúva e dois filhos – deram prosseguimento as atividades de Silvas Serva até 1846.
O livro da historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva sobre o Idade d'Ouro do Brazil contém informações sobre Silva Serva e sobre a tipografia dele, oferecendo mais informações àquelas contidas nos livros A primeira imprensa da Bahia e suas publicações, do bibliófilo Renato Berbert de Castro, publicado em Salvador em 1969, e A Tipografia na Bahia, dos professores Cybelle e Marcello de Ipanema, cuja primeira edição, publicada no Rio de Janeiro, é de 1976. Esse último ganhou segunda edição, revista e ampliada, da Edufba no ano passado. O que esses três livros oferecem sobre Manoel Antonio da Silva Serva é o suficiente para respaldar futuros estudos sobre o personagem e construir a sua biografia, o que tem tardado de acontecer no Brasil ou em Portugal.
Enfim, concluídos os festejos do bicentenário, a Bahia volta-se para os festejos do primeiro centenário de A Tarde, em 15 de outubro de 2012, e da Empresa Gráfica da Bahia, a editora do Diário Oficial, em 07 de setembro de 2015.
Vamos em frente, como recomenda nosso amigo Sérgio Mattos.


* Jornalista. Membro fundador do Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia – Nehib. O autor é mestre em Jornalismo e Editoração pela Escola de Comunicações e Artes – ECA – e doutor em História Econômica pela Faculdade de fil.osofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH –, ambas da Universidade de São Paulo – USP. É autor, dentre outros, de Nome para compor em caixa alta: Arthur Arezio da Fonseca (Salvador: Egba, 2005).

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