sexta-feira, 16 de junho de 2017

'MEU NOME É GUITO , GUITO GUIGÓ'; TEXTO DO JORNALISTA ROGÉRIO MENEZES, NA COLUNA 'COLUNA VERTEBRAL', NO JORNAL DE SALVADOR, 'CORREIO', DE 11 DE JUNHO DESTE ANO.



'O doido mais varrido de minha infância me acorda às três da madrugada. Sentado no chão do quarto, me diz com a desfaçatez que sempre caracterizou GUITO GUIGÓ: 'ESQUECEU, NÉ? EU NÃO ESQUEÇO NUNCA. EM 14 DE AGOSTO DE 1966, EU DISSE E 'OCÊ' CORREU PRA DENTRO DO CASARÃO ONDE MORAVA NA AVENIDA RIO BRANCO, 17, SE CAGANDO DE MEDO - VIVO OU MORTO, 'VORTO PARA VISITAR 'OCÊ' NA MADRUGADA DE 6 DE JUNHO DE 2017. EIS-ME AQUI DE REGRESSO'.

Acendi a luz do quarto, sentei-me na cama, e reparei no cavaleiro de triste figura que se materializava ao meu lado. era mesmo ele: a mesma calça frouxa, o paletó surrado, o chapéu esmolambado de sempre que usava à guisa de cabelo, a barba por fazer os pés de unhas sujas sempre descalços. 

Não me assustei- por que me assustaria com morto querido? Indaguei-lhe - O que você quer , GUITO GUIGÓ, a esta hora da noite invadindo o meu quarto e me roubando o sono? Ele, com a voz meio rouca de antanho, foi direto ao ponto - Quero que 'ocê' escreva sobre minha pessoa.

Passou a repetir a frase como se fosse mantra. Convenceu-me. fui até à sala onde escrevo, abri a janela e o bafo meio frio da madrugada me acordou de vez. ele também veio olhar a rua deserta e afirmou, cheio de convicção - Bem ali, depois daquela encruzilhada, ficava a  LADEIRA DO MARACUJÁ, a rua das PUTAS que sempre me dava guarida.

Já sentado na cadeira em frente a um notebook vermelho - iansã - pra-lá-de-moribundo, lhe proponho - Escrevo com uma condição: me responda o seguinte: por que você odiava tanto que a gente lhe chamasse de BARATÃO? ele crispou o rosto, os olhos quase lhe sairam das órbitas, agitou os braços magros, esbravejou um raivoso 'ATÉ OCÊ, Roge?' , pulou pela janela do primeiro andar e riscou a noite chuviscosa em direção à ladeira do MARACUJÁ.

Gostei de rever o louco varrido mais querido da minha infância. Louco de pedra, mesmo. Ameaçava nos apedrejar quando o apupávamos com a seguinte e diabólica ladainha - GUITO GUIGÓ, MIJA NA CAMA E DIZ QUE É SUÓ!

GUITO GUIGÓ e minha mãe tinham ótimo relacionamento. DONA ÁGUIDA era criatura adorável, mas GUIDO GIGÓ tinha motivos ainda mais pragmáticos para lhe querer bem: os pratos capichados de comida recém-feitos, que tinha ao alcance da bcva em datas rigidamente agendadas ('grudado na saia de MAINHA'), onde não perdia um só dia, e, rigidamente, o horário. DE CERTA PARTE, eu o considerava como um velho avô desgarrado!

Os meus momentos de maior enlevo eram quando: GUITO GUIGÓ se despedia e dizia à minha mãe: DONÁ AGULA, VORTO DIA 27 DE MAIO PARA DE NOVO SABOREAR A DELICIOSA COMIDA QUE A SENHORA FAZ. Guido voltava, exatamente na data e horário 'agendado', nunca falhou um só encontro!

E ainda avisava a minha mãe: 'NÃO DISSE, DONA AGULA, QUE VORTAVA HOJE?"


BARATÃO, QUE ELE NÃO ME LEIA, ERA PONTUALISSIMO. MAIS FÁCIL BOIS VOAREM DO QUE FALTAR A COMPROMISSO MARCADO!

Essa é minha: tenho vinculos com Jequié, cidade baiana, a 350 km de Salvador, onde nasceu e viveu, boa parte da sua juventude, a minha esposa! Ela já me relatava sobre GUIDO, que, apesar de louco, era uma pessoa carinhosa, porém, sem ofende-lo! O problema era que, inclusive ELA, todos eles adoravam intica-lo, e ai, o pau comia! Muitos quebraram cabeças por pedradas do GG! Mas, virou um personagem dessa história! Há  'outros doidos famosos', como o 'JEEP', que andava pela cidade, 'viajava km para outras cidades', segurando um volante velho de um carro, o manejando como se estivesse dirigindo um veículo, e mais, colocava uma 'placa de um veículo' pendurada em sua roupa, pela parte de trás! Mas, não pensem que acabou a longa relação dos 'doidos', há outros, breve......, escreveremos sobre esses 'heróis'!

Mas, vejam como é a vida: ESSA LINDA CIDADE, CONSTRUIDA EM UM VALE, LINDO, CHEIO DE MONTANHAS, 'cidade alta e baixa', banhada pelo RIO DE CONTAS, um dos maiores do interior da Bahia, talvez, uma das cidades brasileiras que mais receberam refugiados da Itália, destruida pela primeira guerra mundial, como o meu sogro, que foi herói de guerra por esse pais, com medalhas de honra pelas suas bravuras, veio para JEQUIÉ, acompanhando um tio, e, ai ficou, dos 23 anos até os 90, quando veio a falecer! BIAGGIO TORTORELLA, virou comerciante e fazendeiro nessa cidade! Assim, ele dizia: 'AMO O BRASIL, AMO JEQUIÉ, JAMAIS SAIREI DAQUI, ONDE QUERO SER ENTERRADO NESTA CIDADE. NUNCA ESQUECEREI A ITÁLIA, MAS, A TERRA QUE AMAMOS É AQUELA QUE NOS ACOLHEU'! Casou-se, teve uma filha, minha esposa, e, ficou viúvo, poucos anos depois, de DONA GENILDA, também, 'refugiada' do PIAUÍ, vindo da cidade de PICOS, fugindo da violenta seca! 

Mas, como sempre, somos vítimas de politiqueiros, verdadeiros bandidos: todos os italianos, que ajudaram a fundar Jequié, no início do século, outros que vieram mais tarde, como meu sogro, possuiam uma grande TUMBA, no cemitério local, onde todos os restos mortais dessa gente foram enterrados ai! O SAFADO PREFEITO DA ÉPOCA, ANTERIOR AO ATUAL, resolveu fazer uma nova entrada nesse cemitério, e, para tanto, mandou destruir várias tumbas, como essa dessa gente que veio de tão longe, que adorava Jequié, onde até o SINO DA CATEDRAL ELES MANDARAM DE LÁ, E O MAIS GRAVE, MANDOU 'JOGAR FORA TODOS OS OSSOS', como nos disse um pobre 'coveiro', cheio de cachaça! ENTRAMOS COM UMA AÇÃO, NA JUSTIÇA, HÁ MAIS DE SEIS ANOS, ONDE NÃO SAIU , ATÉ HOJE, DA PRIMEIRA FASE! Sòmengte as 'almas' dessa gente poderá ser cobrada! Além, claro, do julgamento DIVINO!

Por sinal, faz vergonha o estado caótico do cemitério dessa linda cidade, onde quase todas as tumbas estão quase destruídas, inclusive, várias que mais parecem obras de arte, mostrando, infelizmente, o 'amor dos seus filhos aos seus antepassados'!

Jequié, além dessa gente, nos deu um governador, o SR. LOMANTO JÚNIOR, outros politicos, como o senador CÉSAR BORGES, e um fantástico compositor e historiador WALLY, famoso em todo o Brasil!: 

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