quinta-feira, 2 de maio de 2013

"OLHARES EM DIÁLOGO"


Uma excelente reportagem saida no jornal Estado de São Paulo, edição de 15.4.13, onde falava de uma exposição e do Museu da antiga COLÔNIA JULIANO MOREIRA, no Rio de Janeiro, onde tratava de quadros e outras obras de arte feitas por pessoas com problemas pisquiátricos, introduzida no início do século XX por um fantástico baiano, JULIANO MOREIRA, o primeiro negro a entrar na faculdade de medicina da Bahia, a primeira do Brasil e da América do Sul, criada pelo Império Português. Esse fantástico homem, que entrou na faculdade pela sua capacidade técnica e intelectual, filho de uma lavadeira e de um soldado do corpo de bombeiros, que não o reconheceu como filho, ou seja, naquela época era chamado pela sociedade eleitizada de "FILHO DE PUTA", com ajuda de uma família branca, rica, o adotou, virando médico, depois de ter estudado em excelentes escolas preparatórias, e, lá, na faculdade, virou um especialista em problemas mentais, principalmente,inconformado pela falta de tratamento dado, inclusive, pelos familiares, que, ao saber do parente doente, o trancava em um quarto, no quintal das suas mansões, deixando-o lá até morrer, onde até a comida era colocada através de um buraco, e, quando o pobre homem gritava, etc., mandavam amarrá-lo, com correntes, por dias, dias, meses, meses, anos e anos, até morrer! Se fôsse agora, nos tempos dos RACISTAS NEGROS, esse rapaz não seria o que foi, pois, naquela época, NÃO EXISTIA AS RACISTAS COTAS! Quando surgiu o primeiro hospital para atender e receber esses pacientes, o conceito era de forma de um DEPÓSITO DE PESSOAS, onde eram colocados em pavilhões, e, os mais graves, ficando lá até morrerem! Li a sua biografia, há dias, maravilhosa, onde ele declarou que se espantou ao visitar um desses "depósitos", com mais de 600 doentes, onde, todos os dias, morriam uns dez, saindo diretamente para os cemitérios! Ele, inconformado, sentindo uma compaixão com esses pobres seres humanos, rejeitados pelas familias e sociedade, simplesmente, começou a se movimentar, envolvendo a Igreja Católica e outras entidades da Sociedade Baiana e Nacional, políticos , etc., onde conseguiu, na década de 60, derrubar os muros da COLÔNIA, que, depois passou a se chamar JULIANO MOREIRA EM SUA HOMENAGEM, APÓS A SUA MORTE, infelizmente, dando-lhe um aspecto mais humano, além de acabar com o pavilhão da morte; conseguiu que as familias levassem os seus pacientes (ele não aceitava chamá-lo de loucos, pirados, doentes, etc.), que não possuiam altos graus de problemas mentais, portanto, sem perigo de danos aos familiares e demais membros da sociedade, e, os mais perigosos, que ficassem em pavilhões humanizados, com tratamentos médicos, bem alimentados, etc.! Além disso, começou a criar técnicas de melhoria de vida para eles, como: instalou um moderno piano, onde um professor ensinava a quem desejasse! Virou um sucesso, onde muitos pacientes ficavam, horas e horas, tocando esse instrumento, na maior calma do mundo, gerando para os demais, até para os profissionais e funcionários da Colônia um ambiente saudável! Criou oficinas; criou uma sala de pinturas, onde vários quadros viraram sucesso nacional e internacional, como uma vez circulou por toda a Europa, onde se arrecadou uma grande soma de recursos. O seu sucesso foi tanto que o Govêrno Federal, cuja capital era Rio de Janeiro, o convidou para instalar nesse Estado uma nova Colônia, ao estilo da Bahia, também, chamada COLÔNIA JULIANO MOREIRA. Hoje, a da Bahia, parecendo que não temos pacientes dessa doença, simplesmente, acabou; existiam uns três particulares, também, faliram por falta de apoio e pagamento de débitos pelos governos Federal, Estadual e Municipal, apenas, existindo o MANICÔMIO JUDICIAL para ataender a pacientes mentais que comenteram crimes, também,quase um depósito de seres humanos!
 
A seguir, resumo do artigo feito pelo Heloisa Aruth Sturm, do Rio de Janeiro: "O prédio modernista dos anos de 1950 abrigou, durante décadas, pacientes com distúrbios psiquiátricos. Era a antiga Collônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, onde o artista sergipano Arthu Bispo do Rosário (1909-1989), diagnosticado esquizofrênico-paranóico, viveu durante quase 50 anos. O local possui desde 1982 um museu que, por não estar no eixo da zona sulcarioca, ainda é pouco conhecido. Neste sábado, depois de mais de um ano fechado, o espaço reabre com galerias reformadas, uma programação especial e duas mostras coletivas de artistas que dialogam com a obra de Bispo".
 
'Todas as exposições partem da obra dele. Não tem que ser um museu com uma exposição permanente do Bispo. Tem que ter o pensamento permanente dele', afirma o curador Wilson Lazaro. A exposição SEM FRONTEIRAS ocupa a galeria do Complexo Cultural Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea onde antes funcionava o refeitório do hospício, e traz obras e artistas convidados e do artista sergipano".
 
"O Bispo rompe com tudo. Rompe com a Academia, com a escola de arte, questiona a psiquiatria, utiliza a instituição. Ele foi o primeiro a fazer a reforma,por isso esse pensamento de não fronteira. Apesar  de ser um paciente na colônia, era Bispo quem ditava suas próprias regras,  inclusive mantinha a chave de suas celas-ateliê, onde, durante 50 anos, confecionou seu acervo de 806 obras, guardado no local".
 
"Entre elas as 'VITRINE-FICHÁRIO', que serão apresentadas pela primeira vez em conjunto : um mosaico em azul de nomes, cargos, stiuações do cotidiano, pessoas que passaram pela vida de Bispo ou que ele conheceu em suas leituras de exemplares da extinta revista O CRUZEIRO".
 
"Ele fazia pesquisas. Isso não é loucura, é sintoma de tentar representar o cotiiano do universo dentro de uma obra!"
 
Essa é minha: segundo a biografia de Juliano Moreira, o paciente BISPO, ERA CONSIDERADO UM DOS MAIS PERIGOSOS 'loucos' (era assim que os pacientes eram tratados, por todos, inclusive familiares), inclusive, vivia quase sempre preso na cela, e, quase sempre, acorrentado e preso em uma CAMISA DE FORÇA, as técnicas usadas pela psiquiatria daquela época, claro, quando nem era uma ciência médica!

Nenhum comentário:

Postar um comentário