quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"BASTOS, SÃO PAULO, 1946": TIROS NA SALA DE VISITAS"

Saiu na revista ÉPOCA, de número 745, de 27 de agosto deste ano, uma reportagem, que trata de um filme produzido e executado por Isidoro Yamanaka, conforme destacarei algumas partes dessa história, fantástica, dos imigrantes japoneses chegados ao Brasil, em 1948, após a segunda guerra mundial, onde parte da colônia foi divida entre DERROTISTAS X VITORISTAS, ou seja, os primeiros achavam que o Japão perdeu a guerra; os segundos, discordavam da derrota, promovendo uma guerra civil entre eles, inclusive, os que se conformaram com a derrota do Japão eram ameaçados de mortes, onde muitos deles foram assassinados! Tudo à revelia das autoridades brasileiras!
"Terminou a guerra. O Brasil participou e ganhou. Hoje será feriado. Não teremos aula". A notícia do fim da Segunda Guerra Mundial foi dada pelo diretor do Grupo Escolar de Bastos, no interior de São Paulo, onde eu estudava. Voltamos alegres para casa. Eu tinha dez anos. Corri para contar à minha mãe. 'O Japão perdeu a guerra? Achamos que isso nunca fosse acontecer! E agora? Como seu pai vai contar isso a seu avô?' Ela começou a chorar. O pai do meu pai era um ex-militar japonês. Lutara na guerra do Japão contra a Rússia (1904-1905). Vendo as lágrimas da minha mãe, eu tentava entender o que o fim da guerra significava.
Meu pai era gerente do banco América do Sul (fundado pela comunidade japonesa em 1940) em Bastos. Ele estava, naquele dia, na capital paulista, a trabalho. A viagem de São Paulo a Bastos levava cerca de 18 horas. Minha casa se encheu de gente . Todos à espera do meu pai. 'Ele deve trazer as notícias mais recentes sobre o que aconteceu com o Japão', diziam os cerca de 20 líderes da colônia reunidos na sala. Meu pai chegou por volta das 11 horas da manhã. Antes de falar com as visitas, pediu para conversar a sós com meu avô. Ficaram no quarto por uma hora. Meu pai conseguiu convencê-lo: o Japão havia, pela primeira vez, perdido uma guerra.
Era a vez de falar com os lideres nikkeis (japoneses e seus descendentes). A conversa terminou com cinco deles saindo cabisbaixos de casa, desapontados com a derrota. Os outros sairam chutando a porta; 'Olha, Yamanaka, você está com a informação errada. O Japão venceu a guerra'. Ali, vi a colônia se dividir. De um lado, os makegumis - ou derrotistas. Do outro, os kachigumis - vitoristas que diziam que as notícias do triunfo do Aliados faziam parte de propaganda enganosa orquestrada pelos Estados Unidos e apoiada pelo governo brasileiro.
A colônia , antes muito unida, estava rachada. Se um comerciante fosse dos makegumis, tentava não assumir, porque perderia a clientela kachigumi. Diante da crise, meu pai pediu demissão do banco e decidiu participar da organização de uma comissão pacificadora.
Surgiam cartazes ameaçadores nas ruas da cidade. Eram os kachigumis prometendo acabar com os traidores da pátria - aqueles que ousavam acreditar na derrota japonesa. Os posts amanheciam com mensagens em japonês: 'Fulano de tal, espere sua morte chegar'.
Tudo isto é contado no filme CORAÇÃO SUJO, de sua autoria, um excelente e histórico filme, de um tema quase desconhecido por todos nós! Nesse filme, ela conta um fato pitoresco: todos os homens que nasciam naquela época, principalmente, em plena guerra mundial (1940 a 1945), recebiam o nome de ROBERTO, em homenagem dos pais ao eixo ROma-BERlim-TÓquio!

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